Psicóloga Neuza Miranda

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, ou TDAH, é frequentemente associado à infância.

No entanto, muitas pessoas carregam em si os sintomas do TDAH mesmo na vida adulta, muitas vezes sem reconhecer ou diagnosticar.

Reconhecer esses sinais é fundamental para buscar ajuda adequada, melhorar a qualidade de vida e minimizar impactos negativos no trabalho, nos relacionamentos e na autoestima.

1. O que muda no TDAH quando adultos

Ao crescer, alguns sintomas clássicos de TDAH se transformam. A hiperatividade física pode diminuir, mas a hiperatividade mental ou a sensação constante de inquietação interna continuam presentes.

Adultos com TDAH tendem a desenvolver estratégias compensatórias, como planejar listas, usar alarmes, manter agendas, ou apelar para rotina rígida para "dar conta".

Essas adaptações muitas vezes mascaram os sintomas do TDAH, o que pode adiar o diagnóstico.

Além disso, responsabilidades maiores (trabalho, família, finanças) tendem a expor mais claramente onde o transtorno gera dificuldades.

É comum que adultos percebam que “se esgotam mais rápido”, ou sintam culpa, frustração ou vergonha justamente porque esperam de si um desempenho “normal”.

Mas “normal” é uma expectativa que nem sempre se ajusta ao funcionamento de quem tem TDAH.

2. Principais sintomas do TDAH em adultos

Os sintomas do TDAH em adultos podem variar muito de pessoa para pessoa, tanto em intensidade quanto em combinação. Aqui estão os mais comuns, divididos em categorias:

Desatenção

• Dificuldade em manter foco em tarefas longas ou detalhadas, reuniões extensas ou leitura prolongada.
• Esquecimento frequente de compromissos, prazos ou objetos pessoais (chaves, celular, documentos).
• Desorganização: dificuldade em manter ordem em tarefas, administrar tempo, manter rotinas.
• Procrastinação: adiar tarefas, principalmente aquelas que exigem esforço mental ou persistência.
• Distração por estímulos externos ou internos (pensamentos), “mente divagando”.

Impulsividade

• Fazer coisas precipitadas, às vezes com consequências negativas, sem avaliar bem antes.
• Interromper pessoas nas conversas; dificuldade em esperar a vez; falar sem filtro.
• Tomar decisões rápidas ou compras impulsivas.

Hiperatividade ou inquietação interna

• Sensação de agitação, de que a mente não para, mesmo que o corpo esteja relativamente calmo.
• Necessidade de estar em constante movimento ou fazendo algo; às vezes sendo multitarefa para tentar “acabar logo”.

Desregulação emocional

• Irritabilidade frequente, paciência curta, explosões emocionais desproporcionais.
• Sentir-se sobrecarregado por emoções (“tudo parece demais”); dificuldades para acalmar-se depois de um pico emocional.

3. Impactos práticos: onde os sintomas do TDAH aparecem no dia a dia

Entender onde esses sintomas se manifestam ajuda a identificá-los melhor. Alguns contextos comuns:

• No trabalho: atrasos, dificuldade em cumprir prazos, dificuldade de manter o foco em tarefas monótonas ou que exigem muito detalhe, desempenho aquém do potencial.
• Nas finanças: gastos impulsivos, esquecer contas ou compromissos financeiros, atrasos em pagamentos.
• Nos relacionamentos: mal-entendidos porque esquece compromissos, promessas, ou se distrai. Dificuldade em ouvir com atenção ou manter consistência.
• Na vida pessoal e doméstica: tarefas acumuladas, casa desorganizada, rotina doméstica difícil de manter, sensação de que “nunca dá pra controlar tudo”.

4. Como é feito o diagnóstico do TDAH em adultos

Diagnosticar o TDAH adulto exige avaliar várias dimensões. Aqui vão os passos e critérios principais:

• Avaliação clínica com profissional qualificado (psiquiatra, psicólogo, neuropsicólogo) para levantamento dos sintomas, histórico pessoal, escolar e comportamental.
• Verificar se os sintomas existem desde a infância (ou ao menos traços claros antes dos 12 anos), mesmo que tenham sido ignorados ou compensados.
• Avaliar se os sintomas de desatenção, hiperatividade/impulsividade ou ambos, estão presentes em mais de um contexto (por exemplo: casa, trabalho, social) e geram prejuízos funcionais.
• Uso de escalas e instrumentos de triagem / autorrelato, como ASRS, entrevistas estruturadas ou questionários validados.

5. O que fazer se você se identificou com alguns sintomas do TDAH

Se você leu tudo isso e reconheceu pelo menos parte dos sintomas do TDAH em si, saiba que há caminhos de ação. Aqui vão algumas orientações:



1. Procure ajuda profissional: marcar uma avaliação neuropsicológica e/ou com especialista (psiquiatra ou psicólogo) para confirmar diagnóstico e iniciar plano terapêutico.
2. Terapia cognitivo-comportamental (TCC): eficaz para desenvolver estratégias práticas de organização, manejo do tempo, regulação emocional. Serviços e Informações do Brasil
3. Estratégias ambientais: uso de alarmes, lembretes, agendas, quebra de tarefas em partes menores, rotinas visuais, organização do espaço físico.
4. Autocuidado: sono regular, alimentação equilibrada, exercícios físicos, momentos de descanso — tudo isso ajuda a reduzir o impacto dos sintomas.
5. Estabeleça metas realistas: aceitar que nem tudo será perfeito, dar espaço para erros, celebrar pequenas vitórias.

Conclusão

Reconhecer os sintomas do TDAH na vida adulta é o primeiro passo para viver melhor consigo mesmo.

Muitas vezes, essas pessoas já carregam frustrações, cobranças internas e externas, mas descobrir que não estão “sozinhas” ou que existe explicação para esses padrões pode trazer enorme alívio.

Se você se identificou com vários desses sinais, saiba que existe esperança.

O diagnóstico correto, aliado a estratégias e apoio adequados, pode fazer diferença real. A vida pode se tornar menos sobre “tentar dar conta de tudo” e mais sobre “aprender a operar com seu ritmo”.